O
tempo na Narrativa- Benedito Nunes
“A
noção em senso comum de tempo é inerente ao ser humano, visto que todos somos,
em princípio, capazes de reconhecer e ordenar a ocorrência dos eventos
percebidos pelos nossos sentidos. Medir o tempo significa em princípio
registrar coincidências.”
Benedito Nunes em seu livro, O Tempo na
Narrativa, discorre sobre a importância do tempo em uma obra literária. A
princípio ele faz uma comparação entre a narrativa e a música, no sentindo em
que ambas dão um conteúdo ao tempo, mas depois ele faz a distinção, em que a
narrativa preenche o tempo com a matéria dos acontecimentos na forma de uma
sequência. E a música mede o tempo e subdividi-o. Ele faz a distinção do tempo
nos vários gêneros narrativos e toma como base A poética, de Aristóteles. A
Poética é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles que trata sobre
o tema da poesia e da arte em sua época. Apesar de ser uma obra registrada por
volta de 335 e 323 a.C, é até hoje referência para muitos teóricos da
literatura e das artes em geral.
Para o professor W. D. Ross “A Poética está longe de ser uma teoria
da poesia em geral, menos ainda das belas-artes. No entanto contém talvez maior
número de ideias fecundas sobre a arte que qualquer outro livro.”
Aristóteles referia-se ao tempo na
tragédia como o tempo que se limita, tanto quanto possível, ao período de um
dia. E a Epopeia tem uma duração de tempo ilimitada. Ele definiu as regras da
Epopeia a partir das obras Odisséia e Ilíada, de Homero, onde os acontecimentos
narrados na Ilíada teriam durado 47 dias, e os da Odisséia 50 dias.
Já na teoria dos gêneros, o épico e no
dramático se aproximam do ponto de vista do tempo, porque ambos nos colocam
sempre diante de eventos aos quais os personagens da obra se situam. Nesses
gêneros, portanto, o tempo é inseparável dos acontecimentos que o preenchem.
O
tempo cronológico e o tempo histórico
Émile Benveniste distingue, o tempo físico e do psíquico, o cronológico,
que é o tempo dos acontecimentos, englobando a nossa própria vida. O tempo cronológico, por esse aspecto
ligado ao físico, firma o sistema dos
calendários. Dentro do tempo cronológico,
temos o tempo litúrgico, das
celebrações religiosas, sagrado, é também pontual quanto á significação dos
acontecimentos que as comemorações ritualísticas reatualizam. Outra expressão
específica da mesma temporalidade cronológica é o tempo político, dos eventos cívicos, repetitivos, cíclico sem sua
direção e progressivo em sua significação, pois que a celebração desses eventos
provoca avaliação do passado ou cria a expectativa do futuro. O tempo político é também uma vertente o tempo histórico, que se engrena no
cronológico, tomando por base os calendários.
O tempo
histórico representa a duração das formas históricas de vida, e podemos
dividi-los por intervalos curtos ou longos. Os intervalos curtos se ajustam a
acontecimentos singulares: guerras, revoluções, migrações, sucessos políticos,
etc. Os intervalos longos correspondem a uma rede complexa de fatos ou a um
processo: formação da cidade grega, advento do capitalismo, etc.
Tempo
físico e tempo psicológico
Newton distinguiu o tempo relativo, “aparente e vulgar”, do tempo absoluto, “verdadeiro e matemático”, comparável a um relógio
universal único, que funcionasse uniformemente, em correlação com o espaço, ao
qual também atribui caráter absoluto.
Einstein relativizou o tempo físico, levando em consideração
acontecimentos simultâneos-aqueles que acorrem ao mesmo tempo. Com isso
Einstein formulou a ideia da interdependência do espaço e do tempo ou da quadridimensionalidade do Universo- que
quer dizer: entre dois eventos simultâneos não existe uma relação espacial
absoluta ou uma relação temporal absoluta.
O primeiro traço do tempo psicológico é
a sua permanente descoincidência com as medidas temporais objetivas. Enquanto o
tempo físico se traduz com
mensurações precisas que se baseiam em estalões unitários constantes, para o
cômputo da duração, o psicológico se compõe de momentos imprecisos, que se
aproximam ou tendem a fundir-se, o passado indistinto do presente abrangendo,
ao sabor de sentimentos e lembranças, “intervalos heterogêneos incomparáveis”.
Tempo
linguístico e tempos verbais
Tempo
linguístico, tempo do discurso, que não se reduz ás
divisões do tempo cronológico, revela
a condição intersubjetividade da comunicação linguística. É a partir dos
personagens, dos enunciados a respeito deles ou daqueles que proferem que fica
demarcado o presente da enunciação:
os dêiticos, hoje, amanhã, depois,
funcionam dentro de um intercâmbio linguístico que se passa entre esses
interlocutores. O tempo linguístico
dependerá do ponto de vista da narrativa.
O tempo
físico, o tempo psicológico, o tempo histórico e o tempo linguístico são formas diferentes do tempo real. Contudo, a primazia na representação comum do tempo
real cabe á forma quantitativa, contínua e irreversível, em que se entrecruzam
a objetiva do tempo físico com
sucessão regular do presente ao passado e do presente ao futuro do tempo cronológico.
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