terça-feira, 22 de outubro de 2013

O tempo na Narrativa- Benedito Nunes

“A noção em senso comum de tempo é inerente ao ser humano, visto que todos somos, em princípio, capazes de reconhecer e ordenar a ocorrência dos eventos percebidos pelos nossos sentidos. Medir o tempo significa em princípio registrar coincidências.”
Benedito Nunes em seu livro, O Tempo na Narrativa, discorre sobre a importância do tempo em uma obra literária. A princípio ele faz uma comparação entre a narrativa e a música, no sentindo em que ambas dão um conteúdo ao tempo, mas depois ele faz a distinção, em que a narrativa preenche o tempo com a matéria dos acontecimentos na forma de uma sequência. E a música mede o tempo e subdividi-o. Ele faz a distinção do tempo nos vários gêneros narrativos e toma como base A poética, de Aristóteles. A Poética é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles que trata sobre o tema da poesia e da arte em sua época. Apesar de ser uma obra registrada por volta de 335 e 323 a.C, é até hoje referência para muitos teóricos da literatura e das artes em geral.
Para o professor W. D. Ross “A Poética está longe de ser uma teoria da poesia em geral, menos ainda das belas-artes. No entanto contém talvez maior número de ideias fecundas sobre a arte que qualquer outro livro.”
Aristóteles referia-se ao tempo na tragédia como o tempo que se limita, tanto quanto possível, ao período de um dia. E a Epopeia tem uma duração de tempo ilimitada. Ele definiu as regras da Epopeia a partir das obras Odisséia e Ilíada, de Homero, onde os acontecimentos narrados na Ilíada teriam durado 47 dias, e os da Odisséia 50 dias.
Já na teoria dos gêneros, o épico e no dramático se aproximam do ponto de vista do tempo, porque ambos nos colocam sempre diante de eventos aos quais os personagens da obra se situam. Nesses gêneros, portanto, o tempo é inseparável dos acontecimentos que o preenchem.

O tempo cronológico e o tempo histórico

Émile Benveniste distingue, o tempo físico e do psíquico, o cronológico, que é o tempo dos acontecimentos, englobando a nossa própria vida. O tempo cronológico, por esse aspecto ligado ao físico, firma o sistema dos calendários. Dentro do tempo cronológico, temos o tempo litúrgico, das celebrações religiosas, sagrado, é também pontual quanto á significação dos acontecimentos que as comemorações ritualísticas reatualizam. Outra expressão específica da mesma temporalidade cronológica é o tempo político, dos eventos cívicos, repetitivos, cíclico sem sua direção e progressivo em sua significação, pois que a celebração desses eventos provoca avaliação do passado ou cria a expectativa do futuro. O tempo político é também uma vertente o tempo histórico, que se engrena no cronológico, tomando por base os calendários.
O tempo histórico representa a duração das formas históricas de vida, e podemos dividi-los por intervalos curtos ou longos. Os intervalos curtos se ajustam a acontecimentos singulares: guerras, revoluções, migrações, sucessos políticos, etc. Os intervalos longos correspondem a uma rede complexa de fatos ou a um processo: formação da cidade grega, advento do capitalismo, etc.

Tempo físico e tempo psicológico

Newton distinguiu o tempo relativo, “aparente e vulgar”, do tempo absoluto, “verdadeiro e matemático”, comparável a um relógio universal único, que funcionasse uniformemente, em correlação com o espaço, ao qual também atribui caráter absoluto.
Einstein relativizou o tempo físico, levando em consideração acontecimentos simultâneos-aqueles que acorrem ao mesmo tempo. Com isso Einstein formulou a ideia da interdependência do espaço e do tempo ou da quadridimensionalidade do Universo- que quer dizer: entre dois eventos simultâneos não existe uma relação espacial absoluta ou uma relação temporal absoluta.
O primeiro traço do tempo psicológico é a sua permanente descoincidência com as medidas temporais objetivas. Enquanto o tempo físico se traduz com mensurações precisas que se baseiam em estalões unitários constantes, para o cômputo da duração, o psicológico se compõe de momentos imprecisos, que se aproximam ou tendem a fundir-se, o passado indistinto do presente abrangendo, ao sabor de sentimentos e lembranças, “intervalos heterogêneos incomparáveis”.

Tempo linguístico e tempos verbais

Tempo linguístico, tempo do discurso, que não se reduz ás divisões do tempo cronológico, revela a condição intersubjetividade da comunicação linguística. É a partir dos personagens, dos enunciados a respeito deles ou daqueles que proferem que fica demarcado o presente da enunciação: os dêiticos, hoje, amanhã, depois, funcionam dentro de um intercâmbio linguístico que se passa entre esses interlocutores. O tempo linguístico dependerá do ponto de vista da narrativa.
O tempo físico, o tempo psicológico, o tempo histórico e o tempo linguístico são formas diferentes do tempo real. Contudo, a primazia na representação comum do tempo real cabe á forma quantitativa, contínua e irreversível, em que se entrecruzam a objetiva do tempo físico com sucessão regular do presente ao passado e do presente ao futuro do tempo cronológico.

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